SERÁ
ESTE O MUNDO QUE CRIAMOS?
(Is
This The World We Created?)
“Olha só estas bocas esfomeadas que temos que alimentar Olha bem toda a gente sofrendo que nós criamos Tantas caras solitárias espalhadas por todo lado À procura do que precisam Será este o mundo que
criamos? Para quê o
fizemos? Será este o mundo que invadimos Em contra da lei Em fim parece assim Será que hoje vivemos para isso all living for today O mundo que criamos Sabem que cada dia nasce uma criança desamparada Que precisa de amor e de cuidado numa casa feliz Numa parte um homem rico está sentado no trono Olhando a vida passar ao lado dele Sera este o mundo que criamos Nós proprios fizemos isso Será este o mundo que devastamos Até os ossos Se houver um Deus no céu olhando para baixo O que é que poderia pensar do que fizemos Do mundo que ele tinha criado”
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Letra: Freddie Mercury, Brian May
PORQUE
AYRTON?
“Vai
chegar a minha hora, mas da mesma forma
como com o Ferrari, Deus sabe quando.” *
Ao ler várias obras sobre o Ayrton Senna, encontrei a conjectura de que ele influia de uma forma estranha sobre todo às mulheres de “todas as idades, culturas e nacionalidades”. Assim escreve Cristopher Hilton quem recebia montes das cartas, todas das mulheres, depois de publicar o primeiro livro dele sobre o Ayrton (publicado quando este ainda estava vivo).
Não concordo com esta opinião. Os valores que o Ayrton defendia pertencem aos essenciais para a vida e muitas pessoas compreenderam isso inconscientemente, e por isso é que foi tão admirado, no espaço tão grande: os novos e os velhos gostavam dele, os homens, as mulheres e as crianças, todos da mesma intensidade. E enquanto às mulheres, elas apenas tinham a vantagem em relação aos homens porque tinham mais capacidade pare exprimir em voz alta os verdadeiros sentimentos delas. Para os homens, fora do mundo limitado do desporto, não há muitas maneiras para mostrarem o que sentem em verdade. As mulheres podem fazer isso, elas consideram-se inferiores de todas formas nesta civilização, a base da qual é tão só o princípio masculino, que não avalia muito o “sentimentalismo”. Por causa dessa desigualdade no princípio, está perturbado o equilíbrio e todo este mundo se inclina com perigo, e todos somos testemunhas disto. O Ayrton também estava consciente disso, ele que tinha uma estrucura equilibrada da alma e a quem o coração doia tanto ao olhar a cara devastada deste mundo. As desigualdades nos todos os aspectos perturbavam a paz espiritual, e uma das maiores desigualdades é com certeza a pobreza incrível da maior parte do Brasil (e do mundo, aliás).
“Isso
não pode continuar assim” –
viu-se obrigado a dizer ainda soubesse que sozinho não podia fazer nada. “Os ricos já não podem continuar vivendo numa ilha, cercados do mar
da pobreza. Todos nós respiramos o mesmo ar. As pessoas precisam ter
oportunidades, pelo menos as básicas. Oportunidades da educação, alimentação,
atenção médica. Se isso não começar a acontecer, então não há muita
esperança no futuro e não estranha que os problemas fossem maiores e que a
violência acrescentasse.
Disse mais isso: “Tudo o que eu vejo é que as condições da vida para uma maioria imensa do povo brasileiro ficam piores e que é practicamente impossível fazer uma coisa em contra desta tendência. Isso me dá muita pena e me preocupa imenso.”
Mas ele teimava lutando em contra dessa tendência e por isso o aspecto espiritual da obra do Ayrton não é o único porque ele participava neste mundo de uma forma muito concreta, material. Que pensam, que fazia quando acabava o dura época do verão em Europa? Voltava a casa, ao Brasil onde estava o verão de novo. O Ayrton era um homem que não tinha tempo para os invernos, porque tinha que fazer tantas coisas antes de partir. Só após a morte dele soube-se com mais divulgação de que se dedicava ao trabalho humanitário. Ele próprio mantinha em segredo essas actividades dele, do medo de não ser compreendido mal. Ele queria manter sã a essência dele, isso foi o objectivo dele. De mesma forma compreendia que era preciso mudar as coisas na raiz, educar os jovens e dar-lhes pelo menos uma oportunidade mínima, porque sem isso não havia resultados que durem. Não sabemos tudo o que o Ayrton tivesse feito nessa direcção, em geral não se sabe muito sobre isso, e ele próprio apenas nos disse disso:
“Quando vocês virem as crianças na rua que apenas conseguem
sobreviver, compreendem que têem que fazer alguma coisa, mas que nunca seriam
capazes de mudar o mundo inteiro sozinhos. Mas podem contribuir uma coisa para
que uma parte mude. O que eu faço contra a pobreza não vou dizer nunca. Fórmula
1 não é nada em comparação com esta tragédia.”
Agora, depois da morte dele algumas coisas são conhecidas. Ainda vivo,
conseguiu levar ao cabo um projecto que realmente pode ser designado como a
realização de um sonho. Ele fez publicar uma revista de quadrinhos para os
jovens “SENNINHA”. Essa revista é uma herança visível do Senna, como se
fosse uma extensão física da vida dele.
Porque
escolheu precisamente a banda desenhada como o meio da expressão? Porque ele
podia escolher entre os mais modernos meios de comunicação, e ele escolheu
precisamente os quadrinhos, que parece um pouco antiquado nesta época moderna.
Mas o Ayrton sabia que a revista que a gente podia segurar nas mãos era como se
fosse o melhor amigo, com ela a gente não está sozinha. Pode-se ler numa parte
qualquer, está sempre com a gente ao alcance da mão, pode-se guardar e ler de
novo depois de certo tempo – é leal e duradoura. Mas o que é muito mais
importante é que a gente na imaginação dá vida às personagens, vivendo com
elas, e não é como na TV onde se empurram as imagens acabadas nas cabeças da
gente. A TV é um meio muito perigoso em verdade, sobretudo nas mãos das
pessoas sem consciência. Aqui vem também um facto muito importante de uma
revista de quadrinhos ser accesível a todos, podem-na ler mesmo aqueles que nem
sequer têem TV, nem o vídeo,
“Por
meio de Senninha queria comunicar certos valores que são importantes para mim:
a ética, a amizade, a vida sã, a consciência do ambiente, e também as coisas
simples como o bom comportamento no trânsito”
– foi assim que o Senna descreveu o que queria conseguir publicando a revista.
A personagem do Senninha foi imaginado como progressista porque “Senninha
adora a
Desde
a fundação em 1995, a Fundação Ayrton Senna desenvolveu e apoiou os
programas que ajudam mais de 40 000 crianças e adolescentes que sem isso
estariam em perigo social e/ou pessoal (os datos tomados do folheto oficial da
Fundação Ayrton Senna, a Presidente da qual é a Sra. Viviane a irmã do
Ayrton,).
Ao olharmos todas estas obras do Ayrton Senna não podemos senão ficar assombrados perante a excepcionalidade desse homem que tinha a alma intranquila como todos aqueles que não gostam da cara deste mundo. Uma lenda judia diz que em cada geração há 36 homens justos, a existência de quem é uma garantia para a sobrevivência do gênero humano. Não lhes parece inevitável a conclusão de que o Ayrton Senna possa ser um deles? Ou se lermos o Daniel Quinn, temos que ver logo que o Ayrton pertencia a “Os que deixam” e não a “Os que tiram”.**
Olhando
desse ponto vamos compreender porque teve de morrer tão jovem e solitário.
Porque se houvesse pelo menos 2 pessoas como ele e se juntassem as forças,
seriam capazes de mudar a cara deste planeta de forma notável. Disso nos falou
o Jesus: “Se dois de vocês se juntarem na terra, qualquer coisa que pedirem,
o meu pai, que está no céu, dar-vos-á. Ali, aliás, onde duas ou três
pessoas se juntarem no meu nome, eu também estou com eles.”
Por isso o “verdadeiro príncipe deste mundo”*** cuida muito bem que não aconteça nada deste jeito, e com demasiada frequência o destino dos homens verdadeiramente excepcionais é de se irem embora muito novos, e se for possível de forma mais terrível – se calhar para assustarem logo àqueles que lhes pudessem seguir naquele caminho duro.
Eu não conheço os caminhos do destino, nem posso predizer o futuro, mas
sei uma coisa com certeza: nada pode tirar o Ayrton Senna das almas das pessoas
que guardam a figura e as obras dele “do lado esquerdo do peito"****. Eles são a garantia de que a obra dele ainda dura, e que durará
no futuro.
**
Daniel Quinn, “Ishmael” – A Aventura do Corpo e do Espírito
***
“O diabo é o verdadeiro príncipe deste mundo” – disse uma vez o Ayrton
****
O poema preferido do Ayrton:
O
AMIGO É COISA PARA SE GUARDAR
DO
LADO ESQUERDO DO PEITO